Linha do Horizonte 4
Editorial
O número 4 da Linha do Horizonte, inicia uma nova relação editorial com a editora Caleidoscopio, que muito nos apraz e que irà assegurar uma regularidade de publicação bem como uma distribuição de outro modo impossível.
As caracterfsticas e o layout da revista mantêm-se, bem como o âmbito dos seus interesses, o Desenho em todas as suas possíveis (e impossíveis) manifestações.
O presente número tem como tema uma acção que os computadores banalizaram copiar/colar, mas que remete para aspectos desde sempre presentes no desenhar.
A cópia é um conceito que acompanha a concepção artística desde cedo, e embora o acto de copiar, strictu sensu, apenas exista quando eu copio um desenho já feito e o imito, fazendo outro completamente igual, a ideia generalizada de que a representação copia a realidade está indissociada da ideia de desenhar do natural.
Realmente, ao fazer um desenho dito "à vista", em nenhum momento acontece um copiar em sentido estrito. São tantas as transposições: de volume para a bidimensionalidade do plano de desenho, da escala natural para uma outra escala, frequentemente bastante reduzida, mas ainda de "interpretação" dos contornos, a simplificação ou acentuação do observado...
No entanto, a ideia de cópia, vestígio do conceito de mimésis, por um lado, e da facilidade que a nossa mente tem em identificar num conjunto de linhas e manchas uma representação que se identifica, mantém-se, em último caso, na vulgarização da ideia de representação naturalista.
Copiar remete também, como referido, para a ideia de mimésis.
Afinal, copiamos talvez os percursos sinápticos do nosso cérebro, e um desenho representa finalmente, a historia da nossa percepção do representado.
Copiar no sentido da imitação ou do plágio ou pirataria, sào aspectos curiosos do acto de desenhar, que pode ainda incluir o desenhar como... ou desenhar à maneira de...
Se, por outro lado, colar remete para a prática da colagem, remete também para a prática da montagem, onde a representação não acontece
de modo encadeado (diria que é essa a maneira
de fazer um desenho tradicional), mas por grupos de representação onde quer a assemblage é em si mesma acto de desenho, quer o conjunto de imagens pré-existentes e de imagens desenhadas à mão se interligam no objecto final.
Não esquecendo, finalmente, que num desenho que utilize ferramenta digital, qualquer contextualização da expressão copy/paste se torna desnecessária.
Assim, propôs-se que os artigos abordassem esta ideia da relação com o observado e da relação com a imitação e com a repetição de uma maneira completamente aberta e livre.
Índice
• Helmut Newton, um fotografo em rota de colisão - Armando J. Caseirão
• Epifanias da Banalidade - Fernando J. Ribeiro
• Drawing Patterns - Jill Journeaux
• Da concepção à comunicação de uma ideia. Projecto, analogia e representação - Jorge H. Marum, Maria C. Neto e Miguel S. Fernandes
• Copy without paste: A cópia como metodologia de ensino na aprendizagem da arte no Ocidente e no Ocidente - Mário Kong
• O Desvio da Observação - Paulo Freire de Almeida
• Uma apologia da apropriação e remix de conteúdos - Susana Campos
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